sexta-feira, 24 de abril de 2009

BH tem desafio de lidar com 2,6 mil toneladas de lixo por dia


Fábio Fabrini - Estado de Minas


O desafio de Belo Horizonte em relação ao tratamento de seu lixo é proporcional à montanha de restos recolhida diariamente pelos caminhões da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU). São 2.650 toneladas de lixo domiciliar, com enorme potencial de reaproveitamento. Nada menos que 65% é material é orgânico. A maior parte é formada por alimento, que poderia virar adubo. Mais 25,5% são papel, plástico, metal e vidro, o quarteto mais cobiçado pela industria de reciclagem. Os números da reutilização dão o contraste: cerca de 15 toneladas diárias, ou 0,57%, são destinadas a esse fim. O restante vai para o Aterro Macaúbas, em Sabará. Apesar de tratar-se de um aterro sanitário, bem diferente de lixões sem qualquer controle, como ainda existem em cidades como Conselheiro Lafaiete, a estrutura metropolitana não deixa de alimentar mais um passivo ambiental para a Grande BH. Uma das experiências que poderiam inspirar soluções para enfrentar o dilema na capital é alemã, e subverte a noção de aterro. Nas cidades daquele país, criou-se, há 14 anos, uma técnica para reaproveitar até o que já foi para a vala. O método chegou ao Brasil em dezembro, quando a prefeitura de Maringá (PR) iniciou o reaproveitamento de todos os resíduos do seu aterro sanitário. Eles conseguiram descontaminar e aproveitar o lixo enterrado há três décadas, por meio da injeção de ar comprimido acrescido de oxigênio, que torna os resíduos estéreis, ou seja, não-tóxicos. A implantação das plataformas custou mais de R$ 5 milhões ao Consórcio Biopuster, que queria fazer uma espécie de vitrine para outras cidades da América Latina. Maringá investiu R$ 400 mil próprios e já descobriu que o custo por tonelada processada é R$ 20 mais baixo do que os R$ 100 gastos no aterramento simples. “Pesquisamos 17 tecnologias e escolhemos a menos impactante para a atmosfera e para o solo, que não produz metano, nem chorume e ainda dá a possibilidade de usar o material para compostagem e reciclagem”, revela Rogel Barbosa, um dos responsáveis da prefeitura pelo projeto. O lixo que chega passa por peneiras e depois segue para esteiras, onde é separado. O que não é selecionado até essa etapa vai para células de tratamento. Barbosa explica que 60% é material orgânico com potencial para virar adubo. Outros 10% são recicláveis e o restante é o que ele chama de “inerte”, resíduo que, uma vez descontaminado, pode servir como combustível para cimenteiras ou ser usado na recuperação de áreas degradadas. IncentivoBem longe da experiência paranaense, moradores de Brejo Santo e de mais 20 municípios cearenses se beneficiam da iniciativa da Companhia Energética do Ceará (Coelce), em vigor desde janeiro de 2007. Eles levam papel, garrafas PET e até óleo de cozinha para postos de coleta e apresentam um cartão com os dados da conta de luz. Quando ela chega, vem com o desconto no valor exato do material entregue. A concessionária de energia fecha parcerias com as empresas de reciclagem e com os pontos de recepção, mas gasto mesmo ela só tem com os cartões e suas máquinas leitoras. O desconto na conta é coberto pelas firmas de reciclagem. “É simples, como se a pessoa estivesse vendendo direto para a empresa”, explica o coordenador do projeto, Odailton Arruda. Em dois anos, foram arrecadadas 5,1 mil toneladas de resíduos, que se transformaram em R$ 676,3 mil em descontos. Do outro lado do mundo, em Barcelona, a população tem pontos de entrega do lixo reciclável, a exemplo de BH. O que não fica neles é levado para uma planta de valorização energética, espécie de indústria que faz mais uma seleção do material. Peneiras enormes separam o que é orgânico do que não é. Os restos de plantas, alimentos e animais vão para um biodigestor, depósito infestado de bactérias anaeróbicas, que aceleram a decomposição do material. O processo gera gás metano, canalizado para uma câmara de combustão, onde é queimado. O resultado é energia, usada para alimentar toda a estrutura. A sobra é vendida. O produto da incineração é o gás carbônico (CO2). Mas o dano ambiental é menor que o da queima direta do lixo. Recentemente, o prefeito da capital mineira, Márcio Lacerda (PSB), propôs a construção de uma usina, em consórcio com outras cidades da região metropolitana, para fazer a combustão nesses moldes e produzir eletricidade. Por ser mais limpo, o modelo espanhol é mais adequado, como explica o gerente de Saneamento Ambiental da Fundação Estadual de Meio Ambiente, Breno Machado. Ele pondera que, de qualquer forma, o emprego de técnicas desse tipo no Brasil exige um controle rigoroso. Na Europa, os limites de emissão de gases são menores que no Brasil. Além disso, há mais estrutura de fiscalização. O ideal, segundo o especialista, é a construção em áreas industriais, o que reduziria o incômodo à população. Em BH, empresa de incineração de lixo hospitalar instalada no Bairro Camargos, na Região Noroeste, é alvo constante de reclamações dos vizinhos e tem histórico de autuações pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente.

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