sexta-feira, 24 de abril de 2009

Lixo já é problema crônico em Minas

Junia Oliveira - Estado de Minas
Fábio Fabrini - Estado de Minas

O lixo em Minas Gerais é um problema crônico, sem data para solução, apesar de sucessivos alertas das autoridades ambientais, e que aflige do maior aos mais isolados municípios, embora por causas bem distintas. Em Belo Horizonte, o tema motivou polêmicas judiciais e uma solução fora dos limites do município. Em meio a contestações, os resíduos recolhidos na capital são levados para Sabará, na região metropolitana, e depositados em aterro que deve operar pelos próximos 25 anos. Mas, se nesse caso a preocupação é com o futuro e com a falta de alternativa dentro da própria área urbana, a maior parte das prefeituras mineiras ainda não superou questões primárias. Os números dão o tom de uma catástrofe ambiental silenciosa: 519 cidades, nada menos que 60% do total, ainda conservam lixões, que nada mais são que depósitos a céu aberto para o descarte de resíduos. Com 853 municípios, o estado tem apenas 19 aterros sanitários, atendendo 32 localidades, além de 207 aterros controlados (indicados para cidades de menor porte) e 70 usinas de triagem e compostagem.Dissertação apresentada ao Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) mostra a realidade de 230 lixões no estado e aponta os depósitos de Conselheiro Lafaiete, na Região Central, e de Cambuquira, no Sul de Minas, como os mais perigosos ao meio ambiente e aos moradores. Isso porque estão localizados em áreas com altos índices de pluviosidade, perto de cursos d’água e de áreas urbanas e em terrenos com declive acentuado, o que facilita o escorrimento de chorume, líquido gerado no processo de decomposição de resíduos. Cambuquira, no circuito das águas, se preocupa com a questão. O diretor de Obras da cidade, Avilde Gomes da Silva, informa que a prefeitura estuda a construção de um aterro sanitário. Segundo ele, o lixão está presente na cidade há 15 anos e recebe, diariamente, 12 toneladas de resíduos. “É um problema sério e, se cruzarmos os braços, ele será repassado para a frente a cada administração”, admite. Em Lafaiete, a prefeitura foi procurada, mas nenhum representante retornou a ligação do EM até o fechamento desta edição.

O responsável pela pesquisa, o engenheiro civil e especialista em geoprocessamento Gerson José de Mattos Freire, analisou fatores naturais (topográficos e hidrológicos) e antrópicos (ligados à ocupação humana). “O principal impacto é sobre os cursos d’água. Mas há consequências de toda ordem, como propagação de gases na atmosfera e de resíduos, levados por vento e por animais, além da presença de vetores associados a doenças. O custo social com os catadores é muito grande, pois há crianças e famílias inteiras dedicando à atividade”, diz Freire. Ele é categórico ao afirmar que o estudo não tem objetivo de punir prefeituras, e sim de ajudá-las a criar planos de reestruturação. “Temos vários exemplos em Minas que deram certo, como consórcios de municípios com a mesma área para disposição e a formação de associação de catadores, que trazem benefício social, econômico e ambientalmente correto”, ressalta. Soluções aliadas à criatividade e à boa vontade podem fazer grandes transformações. Um giro por municípios do planeta, entre os quais alguns brasileiros, mostra que Minas pode avançar muito quando o assunto é tratar e reaproveitar seus restos, o que reduziria o volume enviado aos aterros sanitários e aumentaria o ganho ambiental. Bons exemplos vêm de cidades endinheiradas do continente europeu, como Barcelona (Espanha), o que não é de estranhar. Mas a sertaneja Brejo Santo, no interior do Ceará, também tem a contribuir. A primeira recicla quase tudo o que pode e ainda produz energia limpa com o que sobra. A outra dá desconto na conta de luz a quem contribui com a reutilização. E, como o lixo cheira mal também em BH, o prefeito Márcio Lacerda (PSB) promete melhorar a gestão dos resíduos, cuja composição é muito rica, mas o modelo proposto por ele não é o melhor, segundo especialistas.

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